quinta-feira, 2 de abril de 2009

Memórias de um Jornalista




Mais que as memórias de um grande jornalista, Minha razão de viver (editora Record, 1987) é uma espécie de “passe livre” para os bastidores do jornalismo no Brasil. Samuel Wainer lutou contra as estatísticas e contra fortes inimigos, para que a notícia chegasse ao povo. Durante sua jornada, Wainer deu importantes passos para a história do jornalismo no Brasil: foi o único repórter brasileiro em Nuremberg, cobriu a criação do Estado de Israel, que lhe dizia respeito enquanto judeu, e foi o “Profeta” que anunciou o retorno político de Getúlio Vargas.

O encontro com o ex-ditador, em 1950, foi puramente casual. Wainer estava no Rio Grande do Sul para fazer uma matéria sobre o trigo, encomendada por Assis Chateaubriand. Ao ouvir uma conversa de seus companheiros de vôo, no entanto, soube que tinha que ir ao encontro de Getúlio. Na entrevista, foi revelada a tão marcante frase que deu sentido à manchete: “Eu voltarei como líder das massas”.

Após esse encontro, cresceu uma amizade entre o judeu do Bom Retiro e o presidente da República. Depois de diversos trabalhos e viagens mundo afora, Wainer foi aconselhado por Vargas a lançar seu próprio jornal. Um jornal voltado para o povo, que defendesse os interesses do presidente populista. Seria um diferencial, considerando que o mercado jornalístico de então era antigetulista. Bastou esse pedido para convencer o jornalista de que isso era o certo. Nasceu, então, a Última Hora.

Wainer explica o processo de exclusão que sofreu, por parte dos outros donos de jornais. O movimento liderado por Lacerda e Chateaubriand tinha como único objetivo destruí-lo e tirar Getúlio do poder. Para isso, usaram de artifícios baixos e imorais, fustigando suas origens a fim de provar que Wainer não nascera no Brasil. Havia indícios que ele fosse de uma região da ex-URSS, Bessarábia, tendo se mudado para o bairro do Bom Retiro, em São Paulo, apenas aos dois anos de idade. E, segundo a lei, apenas brasileiros poderiam ser donos de jornal.

Como bem evidencia sua filha, Deborah “Pinky” Wainer, Foi um homem que viveu com intensidade, lutou muito, experimentou o poder e soube perdê-lo. Durante os inquéritos sobre sua nacionalidade, sua família foi incomodada e foram feitas afirmações acusatórias sobre seu caráter. Independente disso, Wainer se manteve calmo e sabia responder à altura cada provocação proveniente de Carlos Lacerda.

Sempre mostrando ter valor e apoiando seus ideais, mesmo depois dos amigos lhe darem as costas, Minha razão de viver evidencia que Wainer não era um jornalista qualquer. Suas memórias são uma verdadeira lição de jornalismo, moral e ética. Brasileiro ou não, Samuel Wainer foi um dos últimos jornalistas românticos e teve participação ativa na história do Brasil entre os anos 1940 e 1980. Era um nacionalista.



*(Comunicação Impressa)

Um comentário:

Judy disse...

"e foi o “Profeta” que anunciou o retorno políque anunciou o retorno pol lhe dizia respeito enquanto judeu, e foi o " com o circo que tico de Getúlio Vargas."

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