domingo, 16 de fevereiro de 2014

Meu avô

Hoje tem Festa no Céu.

Uma festa que está sendo preparada faz tempo. Aliás, não consigo me lembrar de um tempo em que essa festa não estivesse sendo preparada. Não consigo.

Ontem meu avô partiu, depois de muitos anos de sofrimento, muitas quase-partidas anunciadas. A gente já estava esperando, mas acho que por esperar por tanto tempo, a notícia acabou me pegando um pouco de surpresa.

Minha semana foi uma loucura, um dia mais confuso e cheio que o outro, desesperos, pepinos a resolver, um verdadeiro pandemônio! Não tenho tido tempo (a velha desculpa) para mim, minha família, meus amigos, minha vida... Em How I Met Your Mother dois personagens tem um pacto de "só me incomode se for algo acima de 8 na escala de importância" e essa semana tive que jogar de acordo com essa regra.

No meio disso tudo, na quinta, Cacá me mandou uma mensagem perguntando se eu podia falar. Respondi que só podia se fosse urgente. Ela desabafou qualquer coisa e ficamos de nos falar mais tarde, em casa. À noite fui falar com ela do meu susto, que quando vi a mensagem dela pensei que se ela estava me chamando no meio do dia, sabendo da loucura que estava o meu trabalho, deveria ser muito importante. Contei que a primeira coisa que me ocorreu foi que o vô tivesse morrido, e que na verdade fiquei aliviada de não ser isso.

Quando ela me ligou ontem, eu tive certeza que era. E foi.



Para a família toda foi um alívio, ele parou de sofrer. Mas porra, porque mesmo que ele sofreu tanto tempo???

A última vez que vi meu avô foi no dia dos pais, ano passado. Ele já não era ele, mas ele já não era ele fazia muito tempo antes disso. Meu pai e minhas irmãs foram no Natal, minha mãe ia (ou tentava ir) quase todo domingo. Eu não.

Não me fazia bem aquele ambiente, estar com a presença física dele e - se eu desse sorte - alguns segundos de lucidez. Conviver com a dificuldade de respirar, falar, engolir, focar o olhar... já me senti egoísta por não passar mais tempo, por não me dedicar mais à ele nesses últimos anos. Mas lembro dos últimos anos da Inha e, com muitas semelhanças no processo de envelhecimento dos dois, essa presença física já não era mais meu avô.

Que bom, Vô, que esse sofrimento acabou! A essa hora você deve estar botando o papo em dia com o Tio Felipe, que foi chamado mais cedo para ajudar a na arrumação da Sua Festa. Espero viver muita coisa aqui, para ter muito o que contar quando eu chegar! Te amo.