quarta-feira, 17 de março de 2010

She's not me (and she never will be)

Aos oito anos fui diagnosticada com anorexia. Sempre me perguntam como meus pais não perceberam que havia algo de errado comigo, mas é bem simples: com uma rotina tão puxada de treinos, ninguém notou meu distúrbio. Todos os dias, antes e depois da escola. Comia pouco de manhã e raramente jantava. 500 abdominais, 300 flexões e vinte voltas correndo no ginásio. Meu sonho era participar de um mundial, mas após sair da clínica mamãe não me deixou treinar de novo.

A genética favoreceu a escolha da atividade. Nasci prematura, com 38cm e pesava pouco mais de um quilo. Sempre soube que seria baixa porque a média da família é 1,65cm. A Ginástica Olímpica sempre foi uma paixão de minha mãe, que é bailarina clássica. Desde as Olimpíadas de 1976, quando aquela russa ganhou a primeira nota dez da história do esporte.

“Minha filha, se você se esforçar eu sei que um dia vai ser que nem a ela” eu ouvia todos os dias quando me buscava no Clube Flamengo. Minha irmã já era da Equipe Mirim quando eu nasci. Pouco depois disso, ela foi chamada para integrar a Seleção Nacional de Ginástica Olímpica e se mudou para Curitiba.

A gente se falava todo dia por telefone e papai mandava uma foto acompanhada de uma carta contando os principais acontecimentos da semana; ele achava importante ela ter “lembranças mais concretas” para quando a saudade apertasse. Perto do meu aniversário de três anos ela caiu durante uma apresentação, e perdeu o movimento das pernas. Assim que se mudou de volta para o Rio, fui matriculada na turma de principiantes. Meu progresso foi tão rápido que poucos anos depois eu já era da Equipe.

A primeira vez que eu desmaiei foi num interestadual. Por sorte, ainda consegui fazer minha sequência e levar para casa o ouro. A partir daí foi introduzida na minha rotina uma dose diária de quatro pílulas que mantinham minha concentração e energia nos treinos. Uma vez que o susto passou, os treinadores e meus pais estavam cada vez mais satisfeitos com meus resultados. Ninguém notou minha aparência, cada vez mais mórbida.

Passei cinco meses internada na clínica e outros seis sob cuidados e dietas especiais. Nunca mais entrei no clube de novo, faltou coragem. Minha adolescência foi saudável, mas há oito meses tive uma recaída. Se me perguntam, foi o estágio e os horários loucos que uma assistente de direção tem. A verdade é que eu sinto culpa de ter destruído o sonho da minha família. Parei de comer ano passado numa tentativa mal sucedida de suicídio. Nunca contei isso pra ninguém.

3 comentários:

cacá disse...

WOW!!!

bomdia disse...

se eu te conhecesse poderia ser seu apoio, gostaria de ser.
eu sei que voc é capaz de continuar bem
conte comigo

bomdia disse...

se bem....
que o título.