segunda-feira, 30 de junho de 2014

Sobre rótulos

Fruto de algumas insônias _ por que julgamos tanto? Tudo, e todos?

Eu trabalho com roupa, isso quer dizer que tenho que gostar de comprar roupas? 
E se eu gosto de comprar roupas, quer dizer que não me preocupo com o mundo? 
Se eu me preocupo com o mundo, quer dizer que não posso me importar com a aparência? 
E se eu me importo com a aparência, então não tenho nada a acrescentar?
Mas pra ter algo a acrescentar eu tenho que ter um trabalho super cabeça, não é?

Eu trabalho com figurino, estou constantemente cercada de roupas. Muitas vezes, roupas novas. Passo boa parte dos meus dias em shoppings (porque figurino contemporâneo é o que mais se vê por aí). Isso não quer dizer que eu gosto de shoppings ou concorde com a sociedade de consumo. Aliás, como não concordo... 
Eu trabalho com figurino, isso também quer dizer que às vezes passo oito horas do meu dia batendo perna no Saara. Também quer dizer que eu carrego caixas, montanhas de cabides e araras. Também quer dizer que carrego e arrumo um caminhão, que viro noites pensando em soluções para algum problema específico. 
Eu trabalho com figurino, isso também quer dizer que eu faço contas. E muitas. Que me preocupo com o código de defesa do consumidor e que presto atenção na burocracia de uma prestação de contas. E não precisei fazer nenhum curso técnico para isso.

Fiz faculdade de Comunicação na PUC. Muitas vezes quando eu falo isso, já vem os julgamentos menina rica e maconheira (se eu falo que estudei na Escola Parque, então, piorou). Larguei para fazer faculdade de Artes no SENAI CETIQT. Aí já complicou, por incrível que pareça ainda tem muita gente que não entende bem o papel de uma faculdade de Artes... e mesmo quem entende, pensa que é uma espécie de perda de tempo, afinal, "arte todo mundo sabe, tem na escola". No CETIQT tinha uma richa muito boba entre alunas de Artes e de Moda, e me pego muitas vezes inserida nesse contexto, implicando com amigas que fizeram curso de Moda como se fosse "menos esclarecedor" ... eu sei que quando eu falo é só por falar, só pela provocação mesmo. Até porque, entrei no curso de Artes porque não tinha vaga para Moda quando fiz o vestibular.


Mas aí me pego pensando, constantemente, por que sentimos sempre a necessidade de rotular as outras pessoas? Aliás, não só as outras, nós mesmos...

Somos pessoas plurais. 

Faço um esforço diário de extrair os rótulos do meu vocabulário, da minha vida. Estamos constantemente julgando e sendo julgados, mas a troco de quê? Julgando e criando expectativas. Por que simplesmente não vivemos e deixamos as coisas se desenrolarem naturalmente, sem ficar pensando que tal coisa seria de tal forma se eu agir assim, mas será de outra forma se eu agir assado. Porque com esse excesso de expectativas, fazemos constantes pré-julgamentos e criando pré-conceitos que muitas vezes nos impede de viver experiências que podem ser interessantes e enriquecedoras.

Me proponho, a partir de agora, um comprometimento com o exercício da liberdade de expressão. Minha, sua, de todo mundo. Sem expectativas, sem julgamentos, apenas ser.

Um comentário:

Alessandra Darino disse...

Além de tantos talentos poderia ser escritora. Sem rotulagem é claro.