Em primeiro lugar, quero deixar algumas coisas claras:
- Trata-se de um texto de opinião, espero que ninguém leia meu texto esperando encontrar algum tipo de "verdade absoluta" - até porque não acredito em tal coisa.
- Ao contrário do que podem pensar ao ler, eu gosto de novelas e acho que, quando "utilizadas" corretamente, são um meio de entretenimento e informação.
- Não sou especialista em nenhum dos aspectos que critico, mas também não sou leiga. Sou formada em Artes com habilitação em Figurino pela Faculdade SENAI CETIQT e cursei dois anos de Comunicação na PUC-Rio.
- Não, eu não sigo essa novela; mas minha família segue, e por vezes assisto a alguns capítulos na hora do jantar ou quando a preguiça é maior que a vontade de fazer outra coisa.
- É muito interessante para a Rede Globo a transmissão de uma novela cheia de clichês e tramas dignas de novela mexicana no horário nobre da televisão, justo numa época em que a realidade está em choque constante e o poder (do Estado e da Imprensa) são diariamente questionados.
São tantos pontos a abordar que é complicado achar um começo. Talvez faça sentido tentar escrever na ordem dos acontecimentos da novela, ou então começar pelo básico, como a abertura. Deixo claro desde já que minha mente não funciona em ordem lógica (nem
cronológica). Mas vamos lá,
a abertura: uma animação cafona com uma música penosa na voz de Daniel, que pelo que ouço nas ruas e leio no Facebook, é de desgosto unânime. Particularmente acho a música cafoninha, mas já ouvi algumas pessoas falando que na voz de Maria Bethânia é uma linda música. Nunca ouvi, mas não duvido; ela tem esse
poder.
Mas a abertura é só um detalhe, uma vírgula no que diz respeito às incontáveis falhas desse folhetim. A trama principal, por exemplo: o irmão invejoso que se passa por bonzinho, mas é capaz das maiores atrocidades contra a irmã indefesa e sonsa; a menina achada no lixo, criada cercada de amor em uma rede de mentiras que reencontra sua mãe sem saber que é mãe. Como diria Fábio Porchat,
é tudo muito rocambolesco.
Acho que João Emanuel Carneiro provou para o mundo - todo mundo sabe que Avenida Brasil fez sucesso internacional e a expectativa acerca do último capítulo foi até motivo de matérias em jornais estrangeiros - que menos é mais. A história dele tinha seus pontos mirabolantes? Sim, mas era muito (bota "muito" nisso) mais bem amarrada. Tinha erros incompatíveis com o século XXI? Sim, que não ficou revoltado com a ingenuidade da Nina, que não tinha um celular com câmera ou um pen drive? Mas num todo, isso não foi o que sobressaiu. Bom, fugi do ponto. Chega de novelas passadas.
Outra coisa impressionante é a escolha de atores dessa novela. Não bastasse os absurdos escritos por Walcyr Carrasco, ainda colocam Bárbara Paz, Paola Oliveira, Caio Castro, Danielle Winits, Leona Cavalli, Fernanda Machado e Malvino Salvador, só para citar alguns, em papéis centrais na história. Isso são só as atuações ruins mesmo, ainda nem entrei no mérito do sotaque - muito do mal feito - paulista dos personagens, isso é de dar dó! Mas vamos lá, essa novela tem alguns bons atores que podem ser divididos em três grupos: 1) os subutilizados, 2) os arrastados para baixo por colegas de cena e mal dirigidos, e 3) os que estão quase bem, mas não o suficiente para segurar uma cena.
No primeiro grupo, cito (e parabenizo por diversos trabalhos anteriores) Álamo Facó, Juliano Cazarré, Bel Kutner, Pierre Baitelli, Mouhamed Harfouch, Bruna Linzmeyer e Vera Zimmermann - são os nomes que lembro agora. No segundo conjunto temos Antonio Fagundes, Eliane Giardini, Luís Melo, Ricardo Tozzi, Thiago Fragoso, Marcello Antony, Emilio Orciollo Netto, Klara Castanho, etc. E no terceiro, e talvez mais interessante, grupo cito Tatá Wernek com sua periguete-burra-sentimental, Vanessa Giácomo com uma secretária cheia de más intenções e, claro, o soberano Matheus Solano, um dos melhores atores brasileiros atualmente, com um gay "enrustido" que dá muita, mas muuuita pinta e de alguma forma consegue enganar a todos por estar casado com uma mulher (até alguns capítulos atrás, agora essa trama já se desenrolou, mas isso é outra história).
Vou falar agora de alguns casos específicos, que não se enquadram exatamente em nenhum dos grupos acima. Elizabeth Savalla parece que fez um intensivo com Daniel e agora só sabe gritar, alcança um timbre altamente irritante e imagino que sofra de uma dor constante na garganta. Carol Kasting, com quem eu simpatizo desde
Terra Nostra por nenhuma razão especial, está completamente apagada, com um sotaquezinho insuportável e com uma personagem que não acrescenta nada a coisa alguma. Marina Ruy Barbosa, que a cada papel que faz consegue piorar sua atuação, fez a paciente de câncer mais insossa dos últimos tempos, sendo uma vergonha a todos os que já lutaram e ainda vão lutar com essa doença - hoje li
uma reflexão muito bem colocada, por uma mulher que eu desconheço que tem o mesmo tipo de câncer que a personagem de Marina, vale a pena. A virgem tarada de Fabiana Karla que caiu no lugar comum da gordinha desajeitada, claramente uma tentativa desesperada de comédia barata - suas cenas desesperadas por perder a virgindade com o primeiro homem que aparecer são tão rasas como qualquer esquete do
Zorra Total, era melhor então voltar às origens (quem me conhece sabe que a comédia do
Zorra não faz meu tipo, mas respeito o programa e os profissionais envolvidos, pois o seriado faz exatamente o que se propõe e nunca tentou se passar por um programa mais sério).
Esse seria um parágrafo eterno se fosse citar todos e ainda consigo pensar em tantos aspectos que me fazem pensar que essa novela está no TOP 5 "Piores novelas da história" que é melhor seguir adiante...
O figurino - meu ofício e minha habilitação na faculdade, impossível não questionar. Meu primeiro contato com o trabalho da Labibe foi na refilmagem de Gabriela, em 2012, e gostei muito. Estava começando uma pesquisa sobre a indumentária da década de 1920 para minha monografia e fiquei encantada com sua versão de Ilhéus. Sua São Paulo contemporânea, no entanto, me deixa sem entender muitas coisas. Porque a Paloma só usa longo, será que é pra combinar com a cara de sonsa? Ok, passei os últimos três anos estudando artes e figurino, minha pouca experiência também me ensinou que um dos principais aspectos do figurino é ajudar na construção do personagem - mais um breve adendo sobre Avenida Brasil, o uso das cores branco e preto para Carminha e Nina, respectivamente, foi um dos maiores acertos da Marie Salles.
Uma coisa é a construção do personagem, outra é a falta de noção e cafonice... e o figurino da novela (como conjunto da obra) pra mim cai nesse buraco. A secretária misteriosa e meio piranha da Vanessa Giácomo continuaria sendo misteriosa e meio piranha sem as roupas absurdamente inapropriadas para trabalho. Assim como o figurino da ex-prostituta interesseira da Bárbara Paz só torna a personagem (e a atriz) ainda mais tosca - hoje ela saiu para negociar a retomada do casamento de fachada com um decote quase no umbigo. Fora a quantidade de mulheres com os saltos agulha mais finos e altos do mundo, como se todas as mulheres "femininas" realmente usassem esse tipo de sapato com a frequência que usam, sei lá, sutiãs. Toda a arte - e ouvi dizer o mesmo dos efeitos especiais - da novela também deixam a desejar. Não é porque foi decidido que a paleta de um personagem passeia por tons de azul que a casa dele, por exemplo, tem que ser toda azul.
Desculpem leitores (se é que há leitores) pela alta carga de rancor no texto... I'm just a soul whose intentions are good - Oh Lord, please don't let me be misunderstood! Mesmo sem seguir a novela, consigo ser bastante afetada por ela. Acho, sinceramente, um insulto à inteligência dos espectadores, além da falta de respeito com diversos profissionais competentes envolvidos na produção. Só espero que quem assiste, pelo menos o faça com um olhar crítico.